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Testemunhos: António Miranda, 46 anos,Engenheiro Electrotécnico e de Computadores, Controlo e Robótica

publicado originalmente em revista onine Visão

À nascença já enfrentava as minhas limitações físicas, pois foi-me diagnosticado um problema no olho esquerdo – coloboma, deformação na íris, ou síndrome de olho de gato -, que provocou a perda da visão central desse olho. O direito não foi afetado, mas a condição era limitativa – algumas atividades que exigiam descer e subir escadas, ginástica ou educação física e situações que implicavam ver em profundidade (como servir à mesa, mais tarde) revelam-se desafiantes e resultaram em situações aparatosas. Por um lado, sempre fui tratado com naturalidade e exigência, por outro, em momentos lúdicos, senti-me um pouco rejeitado.


Na adolescência, aos 15/16 anos, comecei a sentir dificuldades em ouvir sons subtis ou agudos, como o tic-tac de um relógio ou um canto de um galo. Foi por aí que comecei a aventura auditiva. No fim do ensino secundário complementar já usava próteses auditivas e conseguiu concluir com êxito o curso de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, de Controlo e Robótica, no IST/Lisboa. Nas salas de aula ou anfiteatros, com má acústica e presença de ruído (colegas a sussurrar, por exemplo), necessitava do apoio de colegas para me passarem apontamentos das aulas que não percebia ou tinha dificuldade em ouvir. Com o evoluir da situação ou perda auditiva, foi-me diagnosticada otosclerose, que foi sempre agravando a condição auditiva.


Em 2007, o médico que me acompanhava, o Dr. Fernando Rodrigues, em Coimbra, face à perda auditiva mais evoluída, recomendou-me a cirurgia de implante coclear num dos ouvidos, continuando com prótese auditiva no outro.

O ruído e a má acústica sempre foram um entrave, os piores inimigos mesmo, na comunicação oral. E em espaços com muitas pessoas, em espaços abertos, e por vezes, tinha de desligar os aparelhos auditivos, pois sentia-me perturbado. Nunca usufruí de acessibilidade como o aro de indução (ou loop) magnético, nem outra tecnologia assistiva. Mas, foi sempre fundamental, e cada vez mais, a legendagem escrita, porque também desenvolvi uma condição, que é a síndrome de Charles-Bonnet, de ouvir sons e vozes, por vezes, distorcidamente, que leva a que seja confundida por esquizofrenia.

Nos últimos anos, e após pandemia da Covid-19, passei a usar muito a comunicação online e videoconferência com recurso a legendagem acessível.

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