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Testemunhos: João Paulo Mota, 50 anos, Gestor

publicado originalmente em revista Visão Online

Sofro de hipoacusia neurossensorial bilateral severa a grave desde criança, mas só deram conta de que tinha algum problema por não responder às questões das educadoras. Como o meu pai tinha epilepsia, pensaram que também poderia estar a desenvolver esta patologia. Depois de electroencefalogramas atrás de electroencefalogramas, medicação de psiquiatria, chegou-se à conclusão que o problema não era psiquiátrico, mas sim de audição. Andei a ser seguido pelo otorrino no Hospital Maria Pia até à véspera de fazer os 18 anos. A partir daí, passei a ser acompanhado no Hospital de São João, pelo otorrinolaringologista Dr. Eduardo Cardoso que, incansavelmente, fez de tudo para descobrir a causa da hipoacusia neurossensorial bilateral. Após imensos exames e despistes, o Dr. Eduardo chegou à conclusão que não sabia explicar a origem, que tanto podia estar na gestação como numa otite mal curada…

A perda de audição fez com que só desenvolvesse a fala aos 7 anos.

Durante o meu percurso escolar, apesar de ter sido aconselhada pelo médico de otorrino a utilização bilateral de aparelhos auditivos, nunca os utilizei, por vergonha, por não querer ser alvo de chacota dos meus colegas. Durante o secundário e faculdade continuei, pela mesma razão a nunca querer os aparelhos auditivos, o que fez com que me refugiasse no meu canto e me isolasse de todos. 

Quando comecei a trabalhar como administrativo no atendimento numa unidade de saúde, comecei a ter imensas dificuldades de ouvir os utentes, devido ao aumento da perda de audição. 

Com a utilização das próteses auditivas, eu passei a ouvir aquilo que não ouvia e isso veio, sem dúvida alguma, revolucionar a minha forma de estar, de conviver com os meus colegas de trabalho sem qualquer problema.

E foi uma colega de trabalho, a Adelaide João, a quem agradeço, que teve um papel fundamental ao incentivar-me a utilizar as próteses auditivas sem ter vergonha, e sem medos. Ainda me lembro de ela me dizer: “Utilizas óculos, correto? Essas próteses é a mesma coisa, é para passares a ouvir melhor e é para o teu bem-estar físico e mental.”

A partir daí nunca mais tive vergonha de utilizar as próteses auditivas e estas devolveram-me a qualidade de vida que há muito desconhecia.

Se eu tenho hipoacusia neurossensorial bilateral grave a severa, nunca mais irei ter uma audição normal… só a tenho porque tenho as próteses auditivas, e daí a Associação Ouvir lutar junto dos nossos governantes que tenhamos acesso ao atestado médico multiusos de incapacidade a partir dos 30% (para quem sofre de perda de audição). E haver legendas em todos os programas, de modo que cheguem a todas as pessoas. Só espero que não sejamos esquecidos, pois apesar de sofrermos de perda auditiva, somos pessoas como outras quaisquer.

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