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Testemunhos: José Miguel Almeida, 49 anos, Fisioterapeuta

publicado originalmente em revista Visão Online

Aos 14 meses, sofri uma queda de cerca de 1,50m de altura, que me deixou em estado de coma durante 3 meses e sem falar até aos 5 anos.

Volvidos 39 anos, iniciei um quadro muito idêntico a AVC isquémico, com paralisia de Bell, espasmos hemifaciais, perda súbita de audição, tonturas, vertigens, náuseas, pressão no olho do lado da paralisia.

Após muitas opiniões médicas, encontrei um neurocirurgião que trata e opera casos raros como este. Trata-se de microcompressão no VII e VIII par de nervos cranianos direitos (nervo Vestibular e Glossofaríngeo), na zona de AICA. Fiquei sem uma parte da zona cranial (occipital, ângulo pontocerebelar), tendo uma plastia, que mesmo assim, deixa passar algum líquido cefalorraquidiano, causando alguns transtornos de dor crónica occipital.

Realizaram-me uma cirurgia inédita a nível mundial em 2016, e iniciaram estudos fisiológicos no meu corpo para casos futuros. Nesta cirurgia, foram-me colocadas 32 peças de teflon, para minimizar a causa e não para tratar. Por já ter cofose no ouvido esquerdo, foi-me realizado uma cirurgia para implante coclear. No lado oposto, uso um aparelho auditivo, para melhor escuta e perceção de palavras, sons e espaço.

Desde a primeira cirurgia, já ocorreram mais 5, sendo a última para colocar um elétrodo PEN (estimulador de nervo periférico) na zona occipital, para aliviar a dor crónica.

Fiquei com hipersensibilidade a fatores como a pressão atmosférica, e eletromagnéticos. Quando estes se alteram rapidamente, o meu corpo não consegue acompanhar a rapidez e entra em falência, dor, sintomatologia e patologia.

Trabalhei como Técnico de Emergência Pré-Hospitalar, fui colaborador do Estado de 2008 a 2022, no INEM e, fui de igual tempo, bombeiro. Formei-me em Espanha em Osteopatia, e atualmente exerço a atividade e estudo na Universidade Jean Piaget.

Estou reformado por invalidez relativa, com incapacidade de 77 por cento. Estou em constante adaptação aos meios por onde ando.

Como experiência de pessoa com incapacidade, noto que a sociedade, de forma geral, não está preparada para receber e entender pessoas como eu. Sobre a surdez, os ruídos são constantes, abafando os sons naturais e até mesmo os sons vocais. Logo, uma conversa em locais como num café ou restaurante, pode comprometer o diálogo e compreensão, não só com as pessoas com quem convivo, como também, com quem me pode vir atender. Procuro locais com pouco nível de ruído, de forma a que possa entender de forma nítida. Não se trata bem de isolamento, mas sim de procura de bem-estar e homeostase para o meu caso. Como tenho algumas suturas de dimensões consideradas, em alguns locais nota-se que algumas pessoas sentem maior comoção e até medo. Já me aconteceu por duas vezes estar sentado a uma mesa para almoçar e ser convidado pelo gerente a mudar de mesa por clientes terem acesso visual às minhas suturas e não conseguirem suportar tal visão. O mesmo acontece com o implante coclear, sobre o qual sou constantemente questionado.

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